sexta-feira, novembro 26, 2004

Um só país, duas realidades!!



Um Portugal existe...
mas um Portugal pejado de desânimo, comodismo e desconhecimento de si mesmo!! A ignorância tem-nos acompanhado!!
já dizia Napoleão Bonaparte:
"As verdadeiras conquistas, as únicas de que nunca nos arrependemos, são aquelas que fazemos contra a ignorância.
Mais que um mau prenúncio, gostaria que esta mensagem fizesse reflectir amigos, colegas, desconhecidos, familiares, etc, sobre um país que temos,concomitante com duas realidades que vivemos. Ao cidadão de Lisboa, Porto, Coimbra, ilhas e demais cidades litorâneas muitos pormenores, muitos indícios escapam!! Sem querer dar um sentido pejorativo à reflexão, às vezes parece que quem viver, por exemplo, em Lisboa está encaixotado dentro de uma redoma, vivendo quase artificialamente!! Quase sem conhecer o país real!! Desde épocas mais remotas na nossa história, sempre fomos um país acéfalo, ou seja tínhamos uma capital, onde se vivia realmente, dado que nas restantes regiões do país, grosso modo, sobrevivia-se.
Hoje em dia, talvez tenhamos duas grandes urbes, Lisboa e Porto, redimensionadas positivamente nos padrões das médias/grandes cidades europeias, mas escandalosamente desproporcionadas relativamente a Portugal, às suas regiões e à sua população. Alguém um dia dizia, não sei se com noção da quão razão que tinha, que "Portugal era Lisboa e o resto é paisagem"! Pergunto eu, já podemos ter outra perspectiva e discordar deste quase ditado? Talvez!! Atrever-me-ia a sugerir, "Portugal é Lisboa e Porto e o resto é paisagem". Temos quase que duas grandes capitais do país, com todas as qualidades e vicissitudes de grandes cidades, com muita oferta cultural, com melhores acessos, com mais e melhores serviços, seja no ensino, saude, comércio, etc... Tudo de grande que é pensado realizar no nosso país, só terá cabimento se fôr realizado em Liboa, Porto e/ou arredores. É a capital europeia da cultura(Lisboa e Porto), o CCB, a Casa da Música, o Euro2004( não foi só Lisboa e porto, mas o interior continuou sempre olvidado), Campeonato do Mundo de Atletismo em pista coberta, ponte Vasco da Gama, ligação ferroviária pela ponte 25 de Abril, Expo 99, metropolitano( parece que o Porto tb já se pode orgulhar de ter um) novos museus, aeroporto que está pra vir, a ligação ferroviária de TGV que, quer digam, quer não digam, deverá albergar em primeira instância as cidades de Lisboa e Porto!! Poderia continuar a desenrolar o papel, enumerando todas as actividades e projectos realizados entre estas duas cidades, vitimizando sistematicamente todo o restante país...
Tenho a leve sensação de que as pessoas acham muito idílíca a ideia de um novo Parque Mayer projectado pelo celebérrimo arquitecto Frank Gehry, orçada, por baixo, em 130 milhões de €. Interessante, é saber que, por exemplo, o PIDACC previsto para Évora, distrito, em 2004, foi de 99milhões de €. Uma obra de requalificação urbanística e patrimonial de um edifício histórico( ninguém põe em causa o seu valor arquitectónico), custa mais para o bolso dos cidadãos, do que o orçamento previsto para todos os concelhos do distrito de Évora!! Não pude deixar de reflectir sobre o peso dos valores e do que representam na perspectiva do país!! Um país pobre, parece ser um denominador comum, no entanto uns podem projectar obras desta envergadura e de prioridade discutível, outros têm os hospitais que têm, quartéis de bombeiros sem condições de habitabilidade, sem meios para socorrer doentes e acudir a fogos, escolas degradadas, cidades sem policamento necessário, ligações rodoviárias e ferroviárias, indiscritivelmente deterioradas, sem valências minímas para as práticas cultural e desportiva... Realmente poderíamos ainda acrescentar que esta desigualdade está latente num país que parece viver da aparência!! Onde Lisboa é apresentada como uma cidade metropolitana, viva, moderna e adaptada aos novos desafios do século XXI, mas onde tudo o resto é paisagem. Não deveriam os governantes do nosso país combater estas referidas assimetrias, resolver problemas de primeira necessidade, em detrimento de assuntos sumptuários, perdoem-me o desabafo? Temo que muitos lisboetas e restantes cidadãos litorâneos desconheçam a realidade que vigora no Alentejo, Trás-os-Montes e Beira Interior, por exemplo. Fala-se muito na nossa histórica unidade territorial, da univocidade linguística, das similitudes antropológicas, no entanto, ao invés do que a Espanha faz, dá mais a quem precisa de mais, tratando de forma diferente quem é diferente( julgo ser isto a tão propalada equidade), neste caso quem é mais pobre, mais deve receber, Portugal enveredou por outro caminho.
Ocasinalmente, ou não, a Espanha, tem tentando insistir na sua tese de criar uma só unidade, apostando, nomeadamente nas regiões da raia, tanto com Portugal como com a França. Em relação à França, julgo não existirem problemas, dado que é um país que pode ombrear de igual para igual com a Espanha, no entanto, em relação a Portugal a panorâmica é, indesmetivelmente outra. Quando os espanhóis criaram o aeroporto de Badajoz, quando estabeleceram na penúltima cimeira luso-espanhola, as prioridades em termos de traçados de TGV, quando modernizaram as suas vias rodoviárias junto à fronteira, quando proporcionam mais oferta económica, estão, além de desenvolver regiões mais atrasadas, de apostarem numa maior coesão nacional, pois investem no combate às assimetrias regionais, estão igualmente a piscar o olho ao vizinho português, pobre e de mão estendida. Quantas e quantas vezes ouvimos falar em amigos e familiares que foram apanhar o avião em Badajoz, que foram passear a Sevilha, que foram às compras a Mérida, assistir a uma corrida de toiros a Olivença, estudar medicina, para Badajoz ou Cádiz, ter uma consulta médica de especialidade, comprar uma casa, etc... são tantos e tantos os pretextos para termos que nos juntar a nuestros hermanos que, quase apetece dizer que a capital do outrora reino, nos empurra ferozmente com uma espada contra a parede. Ao contrário dos espanhóis que tentam resolver um problema de séculos, nós abrimos uma brecha numa solidez ancestral. Estamos a criar desigualdes tal maneira significativas, que não há coesão nacional que resista!
Não posso arranjar caso mais paradigmático do que o de Barrancos!! não eram as corridas de toiros que eles pretendiam ver resolvidas, era o ostracismo a que são votados continuamente!! Clamavam por um naco do pão do centralismo e este deu-lhe uma migalha. Cada vez mais as pessoas no interior olham para um país triste, anafado e descomprometido com o "Portugal profundo"!! No entanto, por vezes, ainda num último fôlego, pedimos a compreensão e o auxílio de quem, cada vez mais nega assumir responsabilidades!
Deveríamos endireitar Portugal!!
Há coragem, rigor e seriedade para o fazer?

Qual é o mal?

Na entrevista realizada esta Terça-Feira à RTP, o Primeiro-Ministro Pedro Santana Lopes referiu à jornalista Judite de Sousa que o normal, em situações de governos de coligação, é que os partidos que compõem o elenco governamental concorram sózinhos. Só depois de realizadas as eleições, é que se devem fazer acordos de governabilidade do País.
Querem saber a minha opinião? Não me choca nada que tal aconteça. É verdade que temos um projecto comum, onde estamos inseridos e do qual fazemos parte, que é o Governo de Portugal. Há um projecto concreto de governação, uma ideia para o País, uma vontade de reformar. Óptimo!! Se existe agora e é um projecto a curto-longo prazo, este deve continuar depois de 2006. Seja com coligação pré-eleitoral, seja com um acordo pós-eleitoral.
Até digo mais: sou mesmo a favor que os partidos concorram sózinhos para vermos quanto vale cada um. O CDS não tem medo de ir a eleições sózinho. Já o mostrou diversas vezes. Temos espírito de combate e, por mais que queiram "acabar connosco", somos uma força política fundadora da Democracia portuguesa, com um eleitorado próprio, com os nossos próprios valores, a nossa própria ideologia.
Se Portugal quiser contar com o CDS como fez em 2002, dando-nos um papel de establidade para a formação de uma maioria parlamentar e governamental, cá estamos nós! Agora não queremos é sentir que o nosso parceiro de coligação "faz um frete" para concorrer connosco. Muito menos "ouvir bocas" nos congressos social-democratas, que nos tratam como se nós fossemos o inimigo ideológico do PSD.
Nada disso... Somos factor de estabilidade e mesmo sabendo que, provavelmente, vamos separados a eleições em 2006, seremos sempre factor de união no Governo.
Portugal estará sempre primeiro e o interesse nacional é bastante maior do que a existência de algum mal-estar por parte de quem devia tratar-nos com bastante mais respeito...
Miguel Soares

terça-feira, novembro 23, 2004

E agora? Também houve pressão?


José Rodrigues dos Santos

Decorreu ontem, na Assembleia da República, uma audição paralamentar, onde foram chamados o Director-Interino de Informação da RTP, José Rodrigues dos Santos, e uma delegação do Conselho de Administração da RTP liderada pelo seu presidente, Dr. Almerindo Marques.
Assisti pela televisão à referida audição porque estava cheio de curiosidade em saber o que realmente se tinha passado dentro da estação pública de televisão. José Rodrigues dos Santos é um jornalista de referência, tem feito um trabalho notável à frente da Direcção de Informação da RTP, devolvendo a dignidade, a credibilidade e a isenção ao nível da informação. Por outro lado, o Dr. Almerindo Marques é, também, uma pessoa responsável e tem feito um excelente trabalho na condução da televisão pública.
Enfim, a saída repentina de José Rodrigues dos Santos, da Direcção de Informação, assim como toda a celeuma que isso criou, fez com que eu estivesse atento à referida audição.
A nossa "queridissíma" e correcta oposição levantou logo suspeitas! Ele foram pressões do Governo, ingerências na Administração e condução da RTP, censura prévia, enfim, os disparates do costume que já fartam pelo rídiculo dos argumentos utilizados. O líder do Bloco de Esquerda, aquele pseudo-intelectual que só vê esquemas, máfias, interesses e grupos de pressão pediu logo (com a sua habitual "cara de anjo" mas com um discurso cheio de ódio) que o ministro Morais Sarmento fosse ouvido e, quem sabe, o próprio Primeiro-Ministro, Santana Lopes pudesse "ir dar uma perninha" à referida audição! Sim, porque era já adquirido que tinha existido uma forte pressão governamental sobre a RTP.
Contudo, as duas partes ouvidas (Direcção de Informação e Conselho de Administração da RTP) negaram, desde logo, que alguma vez tivesse existido qualquer tipo e pressão governamental. Toda a situação fora criada por um suposto concurso de correspondentes para Madrid e a polémica instalou-se porque as variáveis desse concurso foram alteradas. Conclusão: não houve pressão por parte do Governo e as razões da demissão da DI foram por motivos de política interna da empresa. Vai daí e, já depois, do socialista Arons de Carvalho (um exemplo "magnífico" de gestão da pasta da comunicação social) ter sido "ridicularizado" por ter tentado inventar supostas pressões e estas terem sido logo desmentidas por Almerindo Marques e pelo próprio José Rodrigues dos Santos, os nossos deputados opositores resolveram fazer umas "perguntitas"sobre o referido concurso de Madrid, querendo saber ao pormenor o que se tinha passado. Enfim, a partir daqui assistiu-se ao rídiculo de ver a oposição dar palpites sobre a política interna de uma empresa, fazendo ela própria uma pressão sobre as regras de funcionamento da estação pública de televisão.
Foi lamentável e degradante ver esta oposição ser desmentida quanto aos fundamentos de uma suposta pressão (que nunca chegou a existir) e depois gerir as questões com temáticas rídiculas sobre a forma de colocação de correspondentes televisivos, nos quatro cantos do Mundo.
É claro que os nossos media (como não houve "sangue") acharam por bem dar pouco relevo às audições da referida comissão parlamentar. Se tivessem existido pressões... Isso sim!! Daria uma boa reportagem!! Tenham vergonha: oposição e media...
Miguel Soares

domingo, novembro 21, 2004

"Quais, quais, oliveiras, olivais..."

Há um cantar alentejano que no seu refrão diz assim: "Quais, quais, oliveiras, olivais, pintassilgos, rouxinóis..." e vai por aí fora até chegar "... cucos, milharucos, cada vez há mais.". É um cantar alegre onde cabe tudo, onde de uma só vez a paisagem campestre é exaltada.
Mas agora, e com razão, perguntam-se o que é que este cantar alentejano tem a ver com política? Se calhar nada... Contudo, esta Quinta-Feira quando li a pergunta que nos querem fazer no referendo ao Tratado Constitucional Europeu lembrei-me deste cantar. E porquê?! Porque no refrão da música cabe tudo: "oliveiras, olivais, pintassilgos, rouxinóis, caracóis, perdizes, cordenizes..." etc.. Vem lá tudo.
Na pergunta do referendo também cabe tudo! Ora, vejam lá: "Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?". Olé!! Direitos Fundamentais, maiorias qualificadas, quadro institucional, Constituição para a Europa... Está cá tudo. E ainda se esqueceram de algumas coisas! Para se ir votar nesta pergunta-tipo "Quais, quais, oliveiras, olivais...", o melhor é irmos uma meia hora antes, para percebermos o que nos questionam!
No "Manual de investigação em Ciências Socias" de Raymond Quivy e Campenhoudt, é nos ensinado por estes dois autores que uma pergunta deve ser "clara, precisa, concisa e unívoca". Ao mesmo tempo deve ser realista e ter uma intenção compreensiva ou explicativa. O que acham da pergunta do referendo?! É tudo o contrário do que está nos manuais.
A realidade da integração europeia sempre foi um motivo de reflexão da minha parte. Não me incluo no novíssimo conceito de "Eurocalmo". Calmo por calmo, fico-me pela sesta! Sou mesmo "Eurocéptico" e mantenho a minha coerência, com muito prazer. O CDS que me perdoe mas se, oficialmente, fizerem campanha pelo "sim", a esta "magnífica" pergunta, eu votarei "não". Aliás, fosse qual fosse a pergunta, eu votaria "não" a um Tratado/Constituição que se impõe sobre a Soberania Portuguesa. Já me basta ter perdido o "meu rico Escudo", ainda tenho que me submeter às ordens de Bruxelas. Nem pensar! Meus amigos, são 800 anos de História. Com altos e baixos. Mas é a nossa História. Que eu saiba há um limite geográfico, que são as fronteiras, que demarcam uns países dos outros. Dentro de cada país governa-se de acordo com as especificidades existentes e por nacionais. Não estou "de costas voltadas" para a Europa. É o nosso continente e temos que assumir esta vertente. Assim como, a vertente Euro-atlântica, ou mesmo a dos PALOP'S. Mas antes de tudo isso Somos Portugueses e, pelo menos eu, não me demito dessa identificação, muito menos por lógicas políticas e de coligações.
Que me desculpe o meu CDS mas, música por música, prefiro o cantar alentejano. Sempre me alegro mais... É genuíno, alentejano e português!
Miguel Soares
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