Um só país, duas realidades!!
Um Portugal existe...
mas um Portugal pejado de desânimo, comodismo e desconhecimento de si mesmo!! A ignorância tem-nos acompanhado!!
já dizia Napoleão Bonaparte:
"As verdadeiras conquistas, as únicas de que nunca nos arrependemos, são aquelas que fazemos contra a ignorância.
Mais que um mau prenúncio, gostaria que esta mensagem fizesse reflectir amigos, colegas, desconhecidos, familiares, etc, sobre um país que temos,concomitante com duas realidades que vivemos. Ao cidadão de Lisboa, Porto, Coimbra, ilhas e demais cidades litorâneas muitos pormenores, muitos indícios escapam!! Sem querer dar um sentido pejorativo à reflexão, às vezes parece que quem viver, por exemplo, em Lisboa está encaixotado dentro de uma redoma, vivendo quase artificialamente!! Quase sem conhecer o país real!! Desde épocas mais remotas na nossa história, sempre fomos um país acéfalo, ou seja tínhamos uma capital, onde se vivia realmente, dado que nas restantes regiões do país, grosso modo, sobrevivia-se.
Hoje em dia, talvez tenhamos duas grandes urbes, Lisboa e Porto, redimensionadas positivamente nos padrões das médias/grandes cidades europeias, mas escandalosamente desproporcionadas relativamente a Portugal, às suas regiões e à sua população. Alguém um dia dizia, não sei se com noção da quão razão que tinha, que "Portugal era Lisboa e o resto é paisagem"! Pergunto eu, já podemos ter outra perspectiva e discordar deste quase ditado? Talvez!! Atrever-me-ia a sugerir, "Portugal é Lisboa e Porto e o resto é paisagem". Temos quase que duas grandes capitais do país, com todas as qualidades e vicissitudes de grandes cidades, com muita oferta cultural, com melhores acessos, com mais e melhores serviços, seja no ensino, saude, comércio, etc... Tudo de grande que é pensado realizar no nosso país, só terá cabimento se fôr realizado em Liboa, Porto e/ou arredores. É a capital europeia da cultura(Lisboa e Porto), o CCB, a Casa da Música, o Euro2004( não foi só Lisboa e porto, mas o interior continuou sempre olvidado), Campeonato do Mundo de Atletismo em pista coberta, ponte Vasco da Gama, ligação ferroviária pela ponte 25 de Abril, Expo 99, metropolitano( parece que o Porto tb já se pode orgulhar de ter um) novos museus, aeroporto que está pra vir, a ligação ferroviária de TGV que, quer digam, quer não digam, deverá albergar em primeira instância as cidades de Lisboa e Porto!! Poderia continuar a desenrolar o papel, enumerando todas as actividades e projectos realizados entre estas duas cidades, vitimizando sistematicamente todo o restante país...
Tenho a leve sensação de que as pessoas acham muito idílíca a ideia de um novo Parque Mayer projectado pelo celebérrimo arquitecto Frank Gehry, orçada, por baixo, em 130 milhões de €. Interessante, é saber que, por exemplo, o PIDACC previsto para Évora, distrito, em 2004, foi de 99milhões de €. Uma obra de requalificação urbanística e patrimonial de um edifício histórico( ninguém põe em causa o seu valor arquitectónico), custa mais para o bolso dos cidadãos, do que o orçamento previsto para todos os concelhos do distrito de Évora!! Não pude deixar de reflectir sobre o peso dos valores e do que representam na perspectiva do país!! Um país pobre, parece ser um denominador comum, no entanto uns podem projectar obras desta envergadura e de prioridade discutível, outros têm os hospitais que têm, quartéis de bombeiros sem condições de habitabilidade, sem meios para socorrer doentes e acudir a fogos, escolas degradadas, cidades sem policamento necessário, ligações rodoviárias e ferroviárias, indiscritivelmente deterioradas, sem valências minímas para as práticas cultural e desportiva... Realmente poderíamos ainda acrescentar que esta desigualdade está latente num país que parece viver da aparência!! Onde Lisboa é apresentada como uma cidade metropolitana, viva, moderna e adaptada aos novos desafios do século XXI, mas onde tudo o resto é paisagem. Não deveriam os governantes do nosso país combater estas referidas assimetrias, resolver problemas de primeira necessidade, em detrimento de assuntos sumptuários, perdoem-me o desabafo? Temo que muitos lisboetas e restantes cidadãos litorâneos desconheçam a realidade que vigora no Alentejo, Trás-os-Montes e Beira Interior, por exemplo. Fala-se muito na nossa histórica unidade territorial, da univocidade linguística, das similitudes antropológicas, no entanto, ao invés do que a Espanha faz, dá mais a quem precisa de mais, tratando de forma diferente quem é diferente( julgo ser isto a tão propalada equidade), neste caso quem é mais pobre, mais deve receber, Portugal enveredou por outro caminho.
Ocasinalmente, ou não, a Espanha, tem tentando insistir na sua tese de criar uma só unidade, apostando, nomeadamente nas regiões da raia, tanto com Portugal como com a França. Em relação à França, julgo não existirem problemas, dado que é um país que pode ombrear de igual para igual com a Espanha, no entanto, em relação a Portugal a panorâmica é, indesmetivelmente outra. Quando os espanhóis criaram o aeroporto de Badajoz, quando estabeleceram na penúltima cimeira luso-espanhola, as prioridades em termos de traçados de TGV, quando modernizaram as suas vias rodoviárias junto à fronteira, quando proporcionam mais oferta económica, estão, além de desenvolver regiões mais atrasadas, de apostarem numa maior coesão nacional, pois investem no combate às assimetrias regionais, estão igualmente a piscar o olho ao vizinho português, pobre e de mão estendida. Quantas e quantas vezes ouvimos falar em amigos e familiares que foram apanhar o avião em Badajoz, que foram passear a Sevilha, que foram às compras a Mérida, assistir a uma corrida de toiros a Olivença, estudar medicina, para Badajoz ou Cádiz, ter uma consulta médica de especialidade, comprar uma casa, etc... são tantos e tantos os pretextos para termos que nos juntar a nuestros hermanos que, quase apetece dizer que a capital do outrora reino, nos empurra ferozmente com uma espada contra a parede. Ao contrário dos espanhóis que tentam resolver um problema de séculos, nós abrimos uma brecha numa solidez ancestral. Estamos a criar desigualdes tal maneira significativas, que não há coesão nacional que resista!
Não posso arranjar caso mais paradigmático do que o de Barrancos!! não eram as corridas de toiros que eles pretendiam ver resolvidas, era o ostracismo a que são votados continuamente!! Clamavam por um naco do pão do centralismo e este deu-lhe uma migalha. Cada vez mais as pessoas no interior olham para um país triste, anafado e descomprometido com o "Portugal profundo"!! No entanto, por vezes, ainda num último fôlego, pedimos a compreensão e o auxílio de quem, cada vez mais nega assumir responsabilidades!
Deveríamos endireitar Portugal!!
Há coragem, rigor e seriedade para o fazer?
1 Comments:
Caro Frederico,
Concordo plenamente com o que escreveste. Na verdade, este país a duas velocidades dá muito que pensar, assim como a prática política daqueles que têm responsabilidades na matéria e que teimam em continuar a dividir o país, em dois. É alarmante as disparidades regionais existentes.
Está para sair um trabalho do Gabinete de Estudos da JP, onde se trata a questão das assimetrias regionais. Vou deixar um "cheirinho", tipo Licor de Poejos a seguir a um belo almoço!!.
O trabalho chama-se "Os desafios da Interioridade.
«Portugal, de que é que Tu estás à espera?»”.
E no seu interior reza assim:
"...Como podemos observar, pensam-se processos diferenciados de desenvolvimento local para as distintas realidades locais, apelando à participação de poderes e populações locais. O desenvolvimento local, no espaço rural, deve, desta maneira, assentar na participação da população rural, nas especificidades existentes no próprio espaço e nas diferentes dinâmicas presentes na vida social, política, económica e cultural das populações locais e das áreas rurais em questão. O “círculo vicioso” do subdesenvolvimento das áreas rurais deve, deste modo, ser combatido com a apresentação de resultados duradouros e com a criação de condições favoráveis à emergência e à consolidação dos actores e entidades locais qualificadas e qualificantes, quer seja a um nível individual, colectivo, público, associativo ou privado..."
E vai por aí fora, de forma a incentivar os processos de desenvolvimento regional. A JP tem responsabilidades neste campo e, mesmo que sejamos poucos a teimar nestas matérias, pode ser que ajude a despertar as consciências dos nossos políticos "litoralistas".
Abraço amigo,
Miguel Soares
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