domingo, novembro 21, 2004

"Quais, quais, oliveiras, olivais..."

Há um cantar alentejano que no seu refrão diz assim: "Quais, quais, oliveiras, olivais, pintassilgos, rouxinóis..." e vai por aí fora até chegar "... cucos, milharucos, cada vez há mais.". É um cantar alegre onde cabe tudo, onde de uma só vez a paisagem campestre é exaltada.
Mas agora, e com razão, perguntam-se o que é que este cantar alentejano tem a ver com política? Se calhar nada... Contudo, esta Quinta-Feira quando li a pergunta que nos querem fazer no referendo ao Tratado Constitucional Europeu lembrei-me deste cantar. E porquê?! Porque no refrão da música cabe tudo: "oliveiras, olivais, pintassilgos, rouxinóis, caracóis, perdizes, cordenizes..." etc.. Vem lá tudo.
Na pergunta do referendo também cabe tudo! Ora, vejam lá: "Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?". Olé!! Direitos Fundamentais, maiorias qualificadas, quadro institucional, Constituição para a Europa... Está cá tudo. E ainda se esqueceram de algumas coisas! Para se ir votar nesta pergunta-tipo "Quais, quais, oliveiras, olivais...", o melhor é irmos uma meia hora antes, para percebermos o que nos questionam!
No "Manual de investigação em Ciências Socias" de Raymond Quivy e Campenhoudt, é nos ensinado por estes dois autores que uma pergunta deve ser "clara, precisa, concisa e unívoca". Ao mesmo tempo deve ser realista e ter uma intenção compreensiva ou explicativa. O que acham da pergunta do referendo?! É tudo o contrário do que está nos manuais.
A realidade da integração europeia sempre foi um motivo de reflexão da minha parte. Não me incluo no novíssimo conceito de "Eurocalmo". Calmo por calmo, fico-me pela sesta! Sou mesmo "Eurocéptico" e mantenho a minha coerência, com muito prazer. O CDS que me perdoe mas se, oficialmente, fizerem campanha pelo "sim", a esta "magnífica" pergunta, eu votarei "não". Aliás, fosse qual fosse a pergunta, eu votaria "não" a um Tratado/Constituição que se impõe sobre a Soberania Portuguesa. Já me basta ter perdido o "meu rico Escudo", ainda tenho que me submeter às ordens de Bruxelas. Nem pensar! Meus amigos, são 800 anos de História. Com altos e baixos. Mas é a nossa História. Que eu saiba há um limite geográfico, que são as fronteiras, que demarcam uns países dos outros. Dentro de cada país governa-se de acordo com as especificidades existentes e por nacionais. Não estou "de costas voltadas" para a Europa. É o nosso continente e temos que assumir esta vertente. Assim como, a vertente Euro-atlântica, ou mesmo a dos PALOP'S. Mas antes de tudo isso Somos Portugueses e, pelo menos eu, não me demito dessa identificação, muito menos por lógicas políticas e de coligações.
Que me desculpe o meu CDS mas, música por música, prefiro o cantar alentejano. Sempre me alegro mais... É genuíno, alentejano e português!
Miguel Soares

1 Comments:

Blogger JMC - João Maria Condeixa said...

Muito bem meu amigo Miguel! De ti não esperava outra coisa! Eu próprio para perceber a pergunta recorri a 4 documentos na net e depois fiz um post no www.axoniosgastos.blogspot.com...só me falta ler alguma partes da constituição, para determinante e definitivamente dar o meu voto!

7:29 da tarde  

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